ENTREVISTA - PAULO J. S. FERRAZ

   É de imenso prazer poder entrevistar o Sr. Paulo J. S. Ferraz, um grande fotografo do Vale do Paraíba, também conhecido por Professor Paulo nos foto clubes da região por estar sempre querendo nos ensinar de boa vontade seus conhecimentos da arte fotográfica. Grande conhecedor das fotografias com películas e grande colecionador de maravilhosas maquinas fotográficas, agora vamos conhecer um pouco desse excelente fotografo.

PAULO J. S. FERRAZ (CREDITO DA FOTOGRAFIA: LAUROAKIYAMA)

1- Paulo, gostaria que você fizesse uma auto apresentação para conhecer um pouco de você.

 Sou natural de Cafelândia, mas cresci em Guaratinguetá e também em Queluz, onde ficava nos 3 meses de férias escolares. Meu Pai era contador, mas faleceu comigo muito pequeno e minha mãe era Professora Primária e me criou sozinha.

JOSÉ PRADO FERRAZ (PAI)

MÃE

 Sou engenheiro eletricista, formado em Itajubá, antigo IEI e passei minha vida profissional em Volta Redonda, numa empresa de projetos (COBRAPI).
Fotografei relativamente pouco desde meu ingresso na faculdade e durante minha atividade de engenheiro, apenas algumas fotos de viagem e de família.

Desde 1997 estou aposentado. 

Em 2008 'retirei' do armário minha Pentax e (re)comecei à fotografar. 

2- Paulo, me conte como foi o seu primeiro contato com a fotografia

Desde sempre. Minha mãe gostava muito de fotografias e sempre estava me levando ao estúdio para uma foto em cada aniversário. 

PAULO J. S. FERRAZ NA INFÂNCIA

sempre na mesma cadeira e sempre na mesma posição. Aos 7 ou anos eu saia muito com minha mãe em Guará, com uma câmera-caixão 6x9 e ia fazendo fotos aqui e ali .. como se diz hoje, streetphotos.

Aos 10,12 ganhei minha primeira câmera, uma Beautyflex, um genérico japonês da RolleiFlex.. embora sem todas as funções da Rollei, tem uma lente de boa para ótima qualidade..

BEAUTYFLEX

e funciona ainda hoje e volta e meia ainda saio com ela.
Foi a primeira das minhas 83 cameras.

3- Você se considera um fotografo autodidata?

Sim, inclusive aprendi a revelar sozinho, o que faço desde os 14 anos. Errei muito e ainda erro, mas aprendi um bocado.

Ao que eu me lembre só muito recentemente fui a minha primeira palestra, do Piu Dip, em São Xico.

WORKSHOP DE PIU DIP EM S.F. XAVIER

 
O que eu sei, extrai dos livros, revistas e da prática.

4- Quais são suas principais influências do mundo da fotografia?

Principalmente o Cartier-Bresson http://www.henricartierbresson.org/index_en.htm 

que é recente, 2010 diria, e um pouquinho de Sebastião Salgado.

5-  qual seu estilo de câmera predileta, Slr, Trl ou Rangefinder? Quais suas cameras preferidas? e qual é seu equipamento ideal para o dia a dia?

Eu olho bem mais o lado da lente do que o da câmera (body)
Tenho câmera dos 3 tipos, a enorme maioria comprada no eBay, varias com lentes proprietárias e das 80 cameras analógicas 60% delas estão encostadas por não ter ficado satisfeito comm a qualidade das fotos.

as lentes que gosto mais são as Zeiss. Ikon, Takumar, Nikkor, as russas Mir, Jupiter e claro, a Elmar da minha Leica. 

Eu faço 4 categorias de fotos, 

a) Streetphotos: gosto de cameras compactas e que consiga disfarçar na mão, como a Ricoh 500, a Olympus Pen, a Chinon, que são PS - apontar e disparar .. Raramente eu levo aos olhos, costumo apontar com a mão na altura da cintura..  
Como eu saio 4 ou 5 vezes/ semana, esse é o tipo de foto que mais pratico, um filme a cada saída.

b) Eventos que registro :  no Vicentina ( artistas, Orquestra ) no Parque da Cidade ( feiras ) .. Uma SLR com lentes tipo 80 /200 

as vezes uso uma das minhas digitais, a GE-X5 ou Sony, já que elas gravam vídeo também.

c) Paisagens, no Parque da Cidade, Vicentina ou Santos Dumont.. 

já saio ou com uma 50 mm ou 28 mm ou 180 mm.. seja.. faço uma série.

d) Passeios. sempre levo 3 cameras: uma compacta, uma ou duas SLR, uma com 28/ 100 e outra com zoom e close-up.. e muitos filmes avulsos.. chego a fazer de 200 a 300 registros.

6- Sei que você faz muitos experimentos procurando uma química ideal para suas revelações, Qual sua formula ideal? Me conte um pouco dos seus experimentos com cafenol e o famoso Parodinal?

são 4 tipos distintos de reveladores; 
( veja http://www.flickr.com/groups/1355254@N23/ )

Os profissionais, Kodak D76 e Kodak Dektol, ambos melhorados com Vitamina C e Bicarbonato de Sódio..
A adição desses altera o tempo de revelação, que tem de ser verificado.

Os caseiros, como o paRodinal e o Caffenol, os dois feitos com coisas achadas nas prateleiros na maioria das fórmulas.

Como são caseiras elas não ficam exatamente iguais e então já me habituei a cortar um pequeno pedaço do filme e revela-lo em separado, registrando o tempo em que demora para enegrecer .. O tempo de partida para a revelação normal é o dobro desse primeiro.

7- Você acredita na tese que os filmes 35mm ou 120mm um dia irão acabar?

Não tão cedo, há um nicho de mercado bem sólido e embora alguns nomes como a Kodak e a Fuji tenham abandonado a fabricação de filmes, outros tradicionais continuam, como a Ilford e EFKE novos nomes como os chineses Lucky e GP3.

Por outro lado sinto uma discreta mudança no conceito digital, com os celulares-cameras avançando muito. 

8- Quais são seus filmes prediletos, e me conte como faz para adquirir-los?

Eu compro o barato, como eu gasto muito e não tenho nada a reclamar dos chineses, por exemplo. Os filmes vencidos quase sempre tem uma boa folga, vai muito do jeito que foi armazenado e mesmo 10 anos depois ainda possui uns 80% do ISO original.

quase 100% vem do eBay e a maioria por lance, sempre baixos e não subo muito. De cada 10 que entro, perco 9 .. 

9- qual é a sua opinião em respeito da fotografia digital? Você acredita na tese que a fotografia digital faz o fotografo pensar menos na composição e na captação da imagem e se dedicar mais na pós produção?

O equipamento digital só agora começa a atingir os pixels de um frame de filme ( 27 Mp ) e essas são bem caras, e por isso não circulam muito, a maioria está entre 12 e 14 Mp. 

A Canon e a Nikon tem equipamento acima de 50 Mp e preço lá no alto.  

Eu uso digital quando tenho pressa de mostrar algo, nada contra, mas fotografia tem de ser estudada, abrir ou fechar a lente para mudar a profundidade de campo (DOF) jogando com a velocidade..Embora as digitais tenham esses recursos parece não ser hábito de usa-los exceto alguns bons fotógrafos..

Eu uso muito a pós-produção, independente de  A ou D, não sigo a cartilha de Cartier-Bresson nesse tópico. 

10- Deixe um recado com o tema livre.

Hoje encaro a fotografia como um componente da minha saúde física e mental, pois me obriga a caminhar, 5 ou 6 veZes por semana. Acho que essa parte de 'tratamento' da saúde mental está presente também nos meus amigos, naqueles que são amadores e também naqueles que são profissionais e fazendo a mesma coisa mas para um 'cliente' exigente e diferente, nós mesmos ..

Eu penso que fotografia - escrita da luz - é momento, bem mais que equipamento..é preciso olho, é preciso alma, é preciso lugar e alguma luz. Uma câmera de muitos mil dólares não nos torna Fotógrafos, outra de R$ 50 não o desqualifica..   

FRICKR DO PAULO J. S. FERRAZ http://www.flickr.com/photos/paulojsferraz/